2 de jul. de 2012

Sobre a democracia e a sociedade dividida em classe





O professor Décio Saes que leciona na Unicamp no seu pequeno livro intitulado democracia, temos  uma valiosa definição sobre a democracia.  Para combater a visão da democracia  ‘’como valor universal’’, ele sugere uma teoria histórica da democracia onde se deve analisar a relação entre as classe, o modo de produção, se tal termo pode ser utilizado em outros períodos históricos, a sua época histórica, quem pertence o Estado, seus autores que elaboram e para quem serve a democracia. Como exemplo histórico, ele utiliza o caso da Grécia dos filósofos e sofistas,  onde num debate o oponente que perdia poderia sofrer agressões físicas e até morrer, algo que na teoria hoje seria inconcebível.

Ao contrário daqueles  que pregam que o capitalismo é natural, portanto é impossível ter uma transformação radical da sociedade, podemos assim dizer que o Décio Saes acredita que é possível um novo modelo de democracia.  Se não ignorarmos a importância que tem a historia, tanto é que os grandes capítulos podem se repetir como farsa, na França em 1938 considerada o bastião da ‘’democracia’’, com o acirramento da luta de classes ela podia ter os mesmos rumos que a Alemanha de Hilter e na Itália de Mussolini.

Quando falamos na atual democracia, existe uma grande contradição. A burguesia quando ela assume o posto de classe dominante assumindo o controle do Estado, ela teve um caráter anti democrático vide os autores da época que escreveram sobre a democracia. Como por trás da democracia burguesa, existe por trás uma sociedade dividida em classe portanto a burguesia viu que podia utilizar deste regime para a sua dominação de classe ou seja um melhor meio para poder legitimar seus interesses de classe perante todos os dominados.

Vivemos uma sociedade dividida em classes, onde temos a burguesia com o seu pensamento de querer acumular cada vez mais e o proletariado que só quer deixar de ser explorado. Frente essa contradição, podemos dizer que o mal do intelectual é querer achar que podem estar acima desta contradição que existe na sociedade mas no fundo ele pode estar a serviço da classe burguesa como autores como Keynes (‘’na luta de classes, estarei no lado da burguesia culta e educada) ou do lado do proletariado como demonstrou estar o marxismo.

Portanto uma vez que o Estado é burguês, fica impossível para que ele represente o proletariado ou qualquer outro setor oprimido da sociedade  e muito menos que estes tinham poder igual decisão politica do Estado. Ao menos que pretendemos criar uma ‘’vontade coletiva’’, onde que todos tenham participação e elaboração para a politica de um bem comum, mas mesmo assim teria mecanismos de legitimar os interesses da classe dominante (principal dele, o poder econômico) até mesmo porque esta mesma teria mil mecanismos para poder restringir a participação dos trabalhadores e do povo pobre.

É papel do Estado burguês fazer com que os trabalhadores e todo povo pobre aceitam em os interesses da burguesia e passam ver os interesses da classe dominante como interesses de todos,  colocando ‘’os indivíduos no seus devidos lugares da sociedade’’.  Tal consenso pode ser dado através de alguma concessão, ou através da violência de classe da burguesia, mas ao mesmo tempo que o Estado utiliza desta pratica para a dominação este tem que cumprir o papel de frear a luta de classes e o fato de ter dois interesses antagônicos e inconciliáveis faz com que esta base que a burguesia tem seja bastante frágil.  Em momentos de acirramento da luta de classes e da crise econômica, nem sempre a burguesia opta por dar concessões para se manter no poder mas sim abrir um regime de guerra permanente contra os trabalhadores e o povo pobre destruindo suas organizações e perseguindo suas lideranças.

Quando tratamos de partido político, como próprio nome diz falamos de um parte da sociedade organizada. Se a sociedade está dividida em classe, logo podemos pensar que o partido político é uma determinada classe organizada buscando os seus interesses. A maioria dos partidos do Brasil representam as diferentes frações da burguesia organizada em torno de seus interesses políticos, o proletariado por sua vez precisa alcançar uma estratégia para poder cumprir sua tarefa histórica em derrubar o sistema capitalista.

Os modelos de organização por sua vez estão extremamente ligados a estratégia e os interesses de classes. Lembrando que a estratégia nada mais representa do que, os interesses de uma classe sendo conduzido até o final.  Outro ponto que iremos tratar mais pra frente no texto é o importante fato que a classe operaria poder criar seus próprios mecanismos de auto-organização, mas para isso ela precisa de espaços democráticos para ela passar por experiências concretas para ver qual estratégia que levara ela a tomada do poder e a derrubada do sistema capitalista.

Quando falamos de estratégia, temos que levar em consideração os 150 anos do movimento operário e as suas experiências mais avançadas. Justamente o fato, de que não podemos começar do zero é que a revolução russa ganha a sua importância pois se trata da primeira revolução que o proletariado tomou o poder e junto com a comuna de paris, as experiências mais avançadas que a classe operaria teve ao longo da sua historia de luta.

Se a historia é contada pelos vencedores, como dizia Benjamin vale a pena resgatar a versão de autores como Victor Serge e Leon Trotsky sobre a revolução.  No ano um da revolução russa, Serge autor e militante que vivenciou o processo da revolução russa conta em detalhes a politica de invasão e anexação imperialista contra a união soviética, a politica de terror pelos brancos com fatos de que furavam os olhos dos mortos dos operários bolcheviques e arrastavam pela rua e desde politica de terrorismo vindo por parte de ex anarquista contra Lenin e Trotsky.

O que existia na época era um verdadeiro medo em  relação aos ‘’truculentos’’ bolcheviques, pois esta mesma burguesia que dizia estar perplexa  ‘’o que aqueles criminosos dirigidos por Lenin e Trotsky estavam fazendo na Rússia’’, era a mesma que estava numa guerra que viria ser mais tarde uma das guerras que causou mais mortes ao longo da historia.  Portanto o que os autores revolucionários tiraram com lição, a mesma que Marx tirou após o massacre da comuna de paris é que a burguesia não largaria o poder tão facilmente e com isso teríamos que impor a vontade do proletariado através das baionetas.

Essa historia dos trabalhadores e todo povo pobre russo que aprendeu a enfrentar contra opressão do czarismo, de nada tem haver a politica nefasta do stalinismo que matou a vanguarda do partido bolchevique inteira, substituindo –os por carreiristas, funcionários, antigos mencheviques e sociais democratas. Este pressuposto é fundamental para entender por exemplos reivindicações da primavera de praga, onde estes queriam voltar para o verdadeiro socialismo e retomar Marx e Lenin.

O stalinismo ao contrario do marxismo, não pretendia fazer com que os trabalhadores organizassem através da base, em conselhos onde estes decidiam os rumos da sua própria vida mas sim a direção se organizava numa cúpula separada da base onde demonstrava ter ainda a diferença entre dominados e dominantes. Tanto é que uma das principais tarefas que o Marx, Lenin tinham era a abolição da sociedade divida em classe e assim a abolição do Estado, algo que a burocracia  manteve esta divisão entre oprimidos e opressores  e o seu Estado contra os trabalhadores e o povo pobre da União da republicas soviéticas.

Outro ponto para entender o que aconteceu na união soviética, é o fato de que ela sozinha seria incapaz de sobreviver e por isso precisava de ajuda que a revolução em países como a Alemanha triunfasse. Como sabemos a revolução na Alemanha não foi vitoriosa, abrindo caminho para a politica stalinista de revolução em um só pais, onde que para além de isolar a Rússia incapaz de lidar com as grandes e poderosas potencias imperialistas abria caminho da burocracia stalinista a ter uma politica de coexistência pacifica com as grandes potencias burguesas.

A politica que o PCUS levou para os partidos comunistas de todo mundo é que estes cortassem a possibilidade de revolução social, com politicas de alianças com setores da burguesia ‘’progressistas’’, tanto com a politica de apertar os cintos quando que a realidade exigia ao contrario de apertar os cintos era necessário andar no ritmo acelerado do processo revolucionário e a politica de giros tanto em cantão com os atentados terroristas, tanto na Alemanha na comparação da Social Democracia com o Fascismo.

O Stalinismo não representava os trabalhadores soviéticos, muito menos era uma casca vazia sem nenhum conteúdo dentro, mas era fruto da pressão da burguesia imperialista contra a União Soviética e que respondia os interesses dos camponeses ricos e de alguns  burgueses nacionais que haviam perdido a sua propriedade. Tal politica demonstrou – se a clara com o pacto de Yalta e de Postdam, onde países que pertenciam a burguesia o stalinismo não intervinha e países que pertenciam ao stalinismo, a burguesia não intervinha.

Os trabalhadores e o povo pobre russo, que tinham aprendido a enfrentar contra a opressão czarista se conformou com o fato de ter alguém que sempre manda. Esta mesma população que estava aprofundada na miséria, na ignorância, de não se apropriar dos meios de produção para que aconteça a rotatividade e não permitindo o encastelamento de nenhum setor da União das Republicas Soviéticas.

Por fim a politica que os Partidos Comunistas tinham de fazer intrigas, de não fazer debates sérios na base permitindo que esta busquem uma estratégia pra dar respostas a realidade, de ‘’não querer ser incomodado’’ pelas as polemicas e a realidade escondiam este erro nefasto que resultou numa importante vitória para a burguesia mundial. O proletariado em momentos de levantes criam seus mecanismos de organização, onde as discussões e as decisões são tomada pela base, onde que seja espaços auto – organizados pelos os trabalhadores e que estes tenham escolha de tomar os rumos da sua vida e que cumpram uma função para além da luta de classes e que organizem a sociedade após a queda do capitalismo.

Por fim, a economia capitalista caminha através de crises e crescimentos econômicos. O capitalismo nasce, cresce, desenvolve, definha mas não morre pois precisa da ação revolucionaria dos trabalhadores e todo povo oprimido para poder conseguir alcançar dar resposta a crise econômica que afeta vários países da Europa e do restante do mundo. Reivindicar e lutar pela armas da criticas é fundamental para que se tenha a critica das armas, portanto somente com uma práxis revolucionaria que podemos transformar a sociedade pela raiz.

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