A Veja que tem como porta voz o colunista Reinaldo Azevedo estão numa ofensiva ideologíca reacionaria para tentar desqualificar a mobilização dos estudantes da USP, alegando que estes são uns ‘’filhinhos de papai que usa casaco da GAP que ta fazendo baderna para conseguir privilégios’’. Esta discussão nos remete ao caráter de universidade que temos hoje, qual deve ser o papel dos estudantes e para quem que eles devem direcionar o seu conhecimento. Importante fazer esta discussão, pois a mesma mídia que desqualifica a mobilização dos estudantes da USP como um ‘’bando de filhinhos de papai’’ é a mesma mídia que quer conservar o modelo de universidade que é elitista, racista e exclui a classe trabalhadora , os negros da periferia e o povo pobre.
O projeto de universidade da burguesia é elitista, racista e serve aos interesses do capital. Isso significa que para atender os interesses do capital, a burguesia precisa de uma grande mão de massa barata e não qualificada em contraposição ao um setor formalmente qualificado. Com a reestruturação produtiva e o advento do TOYOTISMO este setor considerado qualificado, acaba também tendo condições de trabalho precário e as universidades agora cumpre um papel de servir mão de obra barata para o ‘’mercado de trabalho’’. Ou seja é bom para o próprio capital, excluir uma grande parcela da sociedade (como a universidade é de classe então a classe trabalhadora e o povo pobre está excluído) ou seja a universidade precisa ter um filtro racista e elitista que exclui esta parcela da sociedade para poder gerar mão de obra barata para o capital continuar se reproduzindo.
As próprias contradições da sociedade dividida em classe permite que a competição do vestibular seja tão desiguais. Enquanto uns tem condições materiais em se apoiar num aparato para passar no vestibular (cursinhos, escolas pagas), outras tem que enfrentar um ensino publico precário fruto de um Estado que investe a metade do seu orçamento para pagar a divida externa e interna, enquanto que uma ínfima parcela que não chega menos de 10% é investido para a educação publica. Dentro da sociedade mediada pelo capital, temos uma enorme disparidade entre as classes fazendo com que as condições seja desiguais.
Portanto esta mesma mídia que trata os estudantes como ‘’os filhinhos de papai’’, é a mesma mídia que quer conservar este modelo de universidade elitista e racista. Temos que desmistificar este discurso, colocando claramente qual é a posição da grande mídia quando ela fala que os estudantes da USP são ‘’filhinhos de papai’’. A burguesia na sua posição conservadora coloca que o capitalismo é natural, que o sistema atual funciona perfeitamente bem e toda essa visão alegre que se perpetua em crescimento econômico como estamos vivendo no Brasil é justamente que esta mesma tem medo de qualquer transformação radical da sociedade. Portanto o que a grande mídia quer é que a USP e as principais universidades é mesmo a sua elitização, o que exclui os trabalhadores e o povo pobre.
O papel do conhecimento e o papel que o estudante possa cumprir na luta de classes.
A universidade reflete o período histórico em que vivemos. Vivemos numa sociedade dividida em classes que tem interesses opostos e inconciliáveis, com isto estão em constante conflito até que uma classe elimina a outra. A historia vive de fluxos e refluxos, quando se acirra as contradições dentro da sociedade abre a possibilidade histórica de transformação radical da realidade através da luta de classes porém o Estado cumpre um objetivo de frear as futuras lutas, ou cumprindo um papel de dar algumas concessões ou através da repressão.
Ideologicamente a universidade sofre a influencia do positivismo desde autores como Durkheim ou até mesmo autores neo-positivistas como Max Weber, ou seja é necessário que se interprete a realidade sem a influencia de nenhuma a ideologia ou o teórico pode até ter suas pré noções mas na hora da pesquisa ou quando interpretar a realidade ele tem que ser neutro. Formalmente a universidade não pode estar a serviço de uma classe, pois ela seria neutra. Porém a neutralidade da universidade está a serviço do capital, pois as pesquisas que são feitas na universidade vão para as chamadas fundações privadas que lucram com as pesquisas feitas pelos estudantes.
A neutralidade da ciência, a tese conservadora de que ‘’sempre foi assim e sempre será assim por que é assim a vida’’ e até mesmo que certas coisas são validas para todos (ricos e pobres), serve justamente para legitimar as idéias da burguesia. A universidade neste sentido cumpre um papel fundamental, pois é um aparato ideológico da burguesia que serve para propagar e legitimar as suas idéias dominantes para assim continuar a sua dominação. Este é o modelo de universidade elitista e privatista que a burguesia quer conservar, por isso ela utiliza a mídia burguesa para poder deslegitimar a luta dos estudantes da USP e de qualquer universidade que questione a universidade e realidade na maneira como ela é.
Muitos autores que tentaram interpretar a realidade, não foram autores de gabinete que se fecha perante e sim que são de uma classe e defendem os interesses dela, que querem dar na sua respectiva maneira uma resposta a luta de classes e que possui um interesses ao interpretar a realidade. Embora a universidade hoje está ao capital e seja um aparato ideológico da burguesia, ela reflete o período histórico em que vivemos, período na qual a sociedade está marcada por contradições e que reflete no fato dela estar dividido em classes com interesses antagônicos e inconciliáveis e que estão em constante guerra. Ou seja na universidade a serviço do capital, abre espaços marginalizados para teorias que visam questionar e transformar a realidade.
Como já citado no texto, a universidade é elitista e exclui e impede a classe trabalhadora e o povo pobre de ter acesso a ela fazendo que ela se restrinja aos filhos de setores da pequena burguesia e da burguesia. Embora a pequena burguesia esteja numa posição confortável principalmente em períodos de crescimento econômico, ela no momentos de acirramento da luta de classes e de crise econômica ela tem que se decidir ou se alia a grande burguesia e forma setores fascistas e reacionários que vão defender a ordem ou se une ao proletariado e vão conquistar a emancipação de toda sociedade. A solidariedade destes setores progressistas que querem transformar a realidade pela raiz e se encontram dentro da universidade, tem que ser concreta pois a classe trabalhadora é a única classe capaz de transformar radicalmente a sociedade trazendo a emancipação de todos os setores oprimidos, mas com o conhecimento adquirido nas universidades e através de experiências da luta de classes os estudantes podem intervir fazendo com que os seus aliados tenham uma estratégia para vencer. Além dos estudantes que são da pequena burguesia que pode cumprir um papel progressista, temos um setor que tem a sua condição de vida acadêmica cada vez mais precárias e por isso estão na linha de frente nas lutas que acontecem dentro dela
Há dois lados nesta luta na USP. Um lado é da burguesia paulistana, reflexo de uma burguesia brasileira que não cumpriu um papel revolucionário na historia e nasceu dos resquícios dos senhores de terra e outro lado são dos escravos que com a ‘’ordem competitiva’’ foi pauperizado fazendo com que estes formassem os morros e os imigrantes que vinham no Brasil com a ilusão de que estes trabalhassem ascenderiam socialmente e se tornaria donos de terras e de empresas mas que só foram explorado. Temos fortes traços de continuidade no passado e que se reflete hoje, pois enquanto a mesma policia invade os morros de São Paulo ou até mesmo em outros lugares do Brasil é para conseguir mão de obra barata para burguesia para ela obter altas taxas de mais valias e assim continuar a grande miséria social que existe no Brasil hoje. A luta dos estudantes ‘’que veste casaco da GAP’’ questiona indiretamente este traço de continuidade que existe na historia brasileira e que se reflete ao ‘’projeto de país’’ que temos hoje.
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